Ao entrar na casa do Oleiro
Vejo-o a trabalhar incansavelmente
Suas mãos trabalham o barro
Seus olhos expressam ternura
Ele amassa e pressiona
Estica e comprime
Não há nenhuma fôrma
Ou tecnologia moderna que o auxilie
Só as suas mãos
Firmes e sensíveis
Que retiram o barro do chão
E com ele faz coisas sublimes
A imaginação do Oleiro é bela
Mas não há ninguém que a possa escrutar
Suas mãos são competentes e hábeis
Basta querer para isso enxergar
Não há como saber
No que o barro há de se tornar
Nem muito menos cada gesto compreender
Tão somente o Oleiro pode revelar
Só cabe ao sábio Oleiro
De acordo com a Sua vontade trabalhar
E ao barro
Em se deixar moldar
Pois mesmo que a mudança gere dor e medo
O Oleiro é alguém em quem se pode confiar
O processo não é algo rápido
É necessário esperar
Mas basta um pouco de perseverança
E os primeiros resultados já se podem observar
Aos poucos, o barro ganha forma
Cada toque e pressão exercida
Vão contribuir
No que o barro se tornará na vida
No fim, o barro se tornará um vaso
Obra de arte singular e de valor
Voltada para armazenar água e alimento
Matando a sede e a fome do sedento
E assim, aliviando a sua dor
A dor e a espera do barro
São na verdade um preço pequeno a se pagar
Em face da grandiosa obra que se tornou
Nesta altura não há mais ninguém a duvidar
E se o Vaso vier a se quebrar
Apresentar fissuras ou a qualidade baixar
E o belo projeto do Oleiro vier a desmoronar
O Oleiro reduzirá o vaso ao barro
E do início recomeçará o trabalho
Desistir...
Não faz parte do seu vocabulário
É que o Oleiro não joga fora o vaso que foi danificado
Ele não desiste de fazer bons vasos
Cabe ao barro apenas se deixar moldar
E nas mãos do supremo artífice, confiar
Carlos Brandão Jr.